
Presidente, Deputados, Membros do Governo …
É em momentos difíceis que procuramos alicerces que nos ajudem a confiar num futuro melhor.
E são vários os atuais desafios: a pandemia do Covid 19, as alterações climáticas, a fragilização do emprego e o retrocesso de múltiplos avanços na Coesão territorial, na Igualdade de direitos e oportunidades e na nossa qualidade de vida em geral.
Tudo desafios que claramente têm vindo a fragilizar as nossas Democracias e requerem uma atenção redobrada dos que as defendem.
A esse alicerce damos o nome de Conhecimento.
Porquê? Porque todos queremos confiar que as decisões (as nossas e as dos outros) se baseiem no Conhecimento mais robusto existente e não em meras opiniões (que como sabemos, proliferam).
E, no entanto, frequentemente esquecemo-nos que o Conhecimento leva tempo.
A investigação e a inovação alimentam-se mutuamente, mas é um processo longo e extenso.
O mesmo se pode dizer da Confiança e da própria Democracia. Levam tempo a construir.
Que por isso mesmo, será sempre um trabalho inacabado, que exige uma aposta continuada.
Quando os desafios são complexos e requerem respostas de vários domínios em simultâneo, o trabalho torna-se gigantesco. Claramente o caso dos desafios que enfrentamos.
Exige diálogo e compromissos que não são fáceis de conseguir. E que também levam tempo nas Democracias que queremos consolidar.
Tempo esse que frequentemente é sonegado aos decisores, não só políticos.
O “Me First” ou “Eu Primeiro” de má memória recente (do outro lado do Atlântico), e tão visível e recorrente à nossa volta, não só não ajuda como enfraquece e destrói esse trabalho essencial de construção de consensos.
O Conhecimento tem como origem a dúvida e como objetivo o esclarecimento.
Das respostas que se acumulam, surgem invariavelmente mais perguntas e dúvidas.
Se tivermos sorte, a incerteza vai sendo ultrapassada.
O Covid 19 é um excelente exemplo desse processo.
Não deveria surpreender ninguém que certas decisões tenham de ser revistas regularmente.
É sempre um trabalho inacabado.
E é também em momentos de crise que percebemos que o maior inimigo da Democracia e do Conhecimento não é a incerteza … é a Mentira.
Porque a Mentira é sempre assertiva e categórica. Nunca tem dúvidas.
Porque se baseia na Ignorância. É fácil, é simplista, e explora a fragilidade do Outro.
Porque normalmente esconde poderosos interesses económicos, políticos e ideológicos, e por isso mesmo, é amplamente financiada, mesmo a nível internacional.
Porque as Certezas são mais fáceis de ser transmitidas nas Redes Sociais e nos Média. Ocupam menos espaço e exigem menos explicação … (o que 94% dos americanos – Veem, Ouvem ou Leem, estão nas mãos de 6 grandes empresas com uma visão muito particular do “jornalismo de investigação”).
Jornalistas que questionam os Negacionistas são ameaçados, inclusive de morte, e até em Portugal.
Porque repetir muitas vezes a mesma Mentira, funciona.
E porque a insegurança e o Medo são fáceis de vender.
E, talvez o mais grave de todos estes aspetos, é que a Mentira promove a Autocracia.
E temos vários exemplos desse Medo – As chamadas Teorias da Conspiração
- Que as Vacinas são perigosas! (esquecendo-nos da magnífica história de Jonas Salk e da irradicação da polio, como de tantas outras, ou do facto que em menos de 1 ano temos várias vacinas contra a Covid 19, mas ironicamente … ainda nenhuma contra o HIV)
- Que as Alterações Climáticas são inventadas! (esquecendo-nos de que há 60 anos que as previsões se concretizam)
- Que os transgénicos e agora os produtos da Agricultura Celular são alimentos Frankenstein!
- Ou que as Eleições foram roubadas!
Por isso, Sr. Presidente, Srs. Deputados e Membros do Governo,
Promover o Conhecimento e a Literacia, em todos os domínios do saber será sempre a forma mais eficaz de lutar contra a Insegurança, o Medo e a Mentira.
*intervenção de Alexandre Quintanilha, cientista, professor universitário e deputado parlamentar do PS, na Assembleia da República a 25/02/2021.