
Nos outros pontos da agenda política, penso que Biden poderá, como alguns líderes europeus, valer mais como exemplo do que como influência. Não penso que atue efetivamente para proteger direitos sociais e menos ainda trabalhistas (sendo que estes últimos praticamente não existem nos Estados Unidos), áreas em que a ação deletéria do governo Bolsonaro se faz sentir com vigor.
Mas, no caso urgente da pandemia, Bolsonaro perdeu seu grande aliado na luta contra a ciência e a vida. Ficará mais difícil para o presidente brasileiro continuar pregando contra a vacina e as formas de cuidado que protejam as pessoas, sobretudo as mais vulneráveis.
Nas relações exteriores, a profética frase do chanceler brasileiro há poucas semanas – gabando-se de que o Brasil sob direção dele e de Bolsonaro estava-se tornando “um pária” entre as nações – tem tudo para se realizar. Contudo, não penso que o soft power conquistado nos governos Lula esteja morto e enterrado. Penso que, se e quando o Brasil voltar a ter um governo democrático, este poderá fazer valer os ativos desenvolvidos na profícua gestão de Celso Amorim nas relações exteriores. Não será fácil, mas o período áureo da projeção brasileira no mundo não será facilmente esquecido.”