Todos estamos bem cientes da gravidade da crise com que nos deparamos. Nada mais há a acrescentar nesse campo, restando-nos, enquanto seguimos as recomendações das autoridades competentes, aguardar, pacientemente, por melhores dias. Quero, contudo, refletir acerca de um aspeto potencialmente positivo deste flagelo. Acredito que em todos os eventos, mesmo nos mais catastróficos, é possível encontrar algo, por muito ínfimo que seja, de positivo. Que sirva esta crise para trazer à superfície da nossa sociedade, de um modo duradouro e consistente, um sentido de fraternidade, de entreajuda, que há muito se vinha perdendo. Que a noção, que hoje todos estamos a ser forçados a assimilar, de que o bem do todo depende da soma do bem individual, se estenda pelos anos vindouros. Que, quando a crise sanitária passar, se perceba que as desigualdades e a exclusão social são vírus que minam o organismo chamado sociedade e que, portanto, importa combatê-los com o mesmo vigor com que, hoje, se combate o COVID-19. E isto é igualmente verdade na dimensão do cuidado que devemos ter – UE – a resolver, de uma forma humanista, o flagelo das migrações. No entanto, a completa falta de informação, na comunicação social presentemente monotemática, acerca da desgraça que está a ocorrer na fronteira turco-grega, já é merecedora de reparo e de preocupação. Enfim, esta crise é a última a evidenciar que o destino de um homem ou de uma mulher, de uma cidade, país ou continente é indissociável daquilo que se passa na porta do lado e que as soluções para os grandes problemas só podem ser alcançadas numa lógica multilateralista. O mundo não vai acabar. Não acabou com a gripe espanhola nem com as guerras mundiais. Estamos a ser desafiados uma vez mais e saberemos responder à altura. Que a sociedade que venha a sair destes dias de apreensão e de mágoa seja uma sociedade mais sábia, uma sociedade melhor. Coragem e boa sorte!
COVID-19, uma janela de oportunidade
