(*) Breve relato da sessão “A Utopia da Hospitalidade – Unidade na Diversidade”, por Fátima Vieira, Vice-Reitora da Universidade do Porto (Cultura, Museus e U.Porto Edições).
25 de fevereiro
Só de ouvir a Lídia Jorge apetece-me ir para casa escrever um poema, exclamou Ana Luisa Amaral.
O caso não era para menos. Lídia Jorge estivera a falar de literatura e resistência, da necessidade de se fomentar uma cultura da lembrança, do livro como uma das Utopias fundamentais do nosso mundo – um espaço de ensaio da escrita do Outro e uma forma de hospedagem do leitor -, e da grande ameaça que impende sobre a humanidade quando os livros são proibidos.
Milton Hatoum falou também sobre a proibição de livros, uma espécie de Fahrenheit 451 do século XXI que está a acontecer no Brasil com o banimento, anunciado pelo Ministro da Educação brasileiro, dos livros de Paulo Freire, o grande utopista de uma educação para a solidariedade e a fraternidade. E inspirou a plateia ao afirmar a literatura como um ato de esclarecimento e emancipação, um dos caminhos essenciais da Hospitalidade.
Ana Paula Coutinho, que na sessão cumpriu o papel de Comentadora, lembrou que o pensamento da Hospitalidade é estruturante da cultura ocidental e alertou para o trabalho que é ainda necessário fazermos de difusão e atualização, para o nosso tempo, dessas matrizes narrativas, ao mesmo tempo que deixou no ar uma pergunta incómoda: quem é que narra o cosmopolitismo dos pobres?
A Utopia da Hospitalidade é, como afirmara Alvaro Vasconcelos na abertura da sessão, uma utopia social essencial para a nossa vida em sociedade.
Ainda bem que podemos contar com os escritores. É que, como disse Milton Hatoum, às vezes os escritores lançam sementes que parecem delírios. E, como antes afirmara Lídia Jorge, um livro é uma promessa de paz.
Ana Luísa Amaral, espero que estejas a escrever o teu poema. Enquanto aí estiveres, sabemos que é possível resistir.
*Fotografia: Serralves.