Por Luísa Schmidt*
A resposta pode não ser fácil, mas dela depende muito a sustentabilidade do nosso futuro colectivo.
Este é, aliás, o título de um texto inspirador de Tim Jackson, publicado há quase uma década e que continua de extrema actualidade e pertinência, mais ainda num contexto de agravamento das alterações climáticas.
Sem obstinações cegas de quem tem uma solução milagre, o seu autor, Tim Jackson, pondera com notável sensatez a condição económica da sociedade ocidental e demonstra com lucidez a viabilidade prática de um modelo de economia mais inteligente.
Não é um relatório miragem, nem uma utopia alternativa. Trata-se de um documento pragmático que fala de coisas que tocam individualmente a vida de todos nós: prosperidade, bem-estar, segurança… E não só. Fala também de oportunidades, ou seja, de vontade de alcançar o futuro, de coisas para fazer, de novidades… a merecer reflexão e debate e que importa revisitar.
Avança com uma redefinição de prosperidade em termos modernos, distanciada da bulimia e da obesidade das sociedades de consumo. Viver na vertigem de consumir cada vez mais mercadorias mais baratas e menos duradouras não aumenta o estado de satisfação das pessoas com a vida – veja-se o absurdo dos black fridays. Há um nível a partir do qual a espiral de consumo perde eficiência na produção de bem-estar, sem deixar de produzir à distância mal-estar a outras sociedades e aos seus recursos naturais.
Não se trata, claro, de suspender o consumo, o que acarretaria uma ruína tão má ou pior daquela em que estamos a cair, mas sim de gerar novos horizontes de consumo – não só ao nível dos bens, mas também da forma como eles são consumidos. Trata-se de uma nova cultura de consumo mais sofisticada, menos viciada nas montanhas de produtos inúteis e na espiral de consumo que nos leva ao irremissível endividamento com que a economia nos domestica; uma cultura de consumo ambiental e socialmente motivada que implique mais incorporação de conhecimento e de inovação.
Destacam-se também as propostas para uma activação efectiva da economia com um crescimento de perfil diferente, desdobrando novos sectores económicos com lógicas energéticas e ambientais muito mais desenvolvidas e socialmente mais justas.
Muitas propostas alvitram, aliás, curiosamente, sentidos muito favoráveis à condição portuguesa: apontam para uma importância crescente da fruição de valores culturais, ambientais, societais, reduzindo a pressão sobre recursos e apostando nas energias renováveis, reforçando a coesão e a harmonia social. Apontam para a criação de produtos simultaneamente excelentes e simples, revalorizando, por um lado, os contextos locais e, por outro, a enorme incorporação de conhecimento científico, sem terem que envolver indústrias ambientalmente pesadíssimas na sua factura. Apontam para os valores e espaços públicos e cívicos de uma vida cultural elevada, activa e colectiva – incluindo as actividades performativas, as indústrias culturais e a economia dos patrimónios (construído e natural) e a reabilitação urbana com eficiência energética. Tudo coisas em que os valores de base se encontram dentro do próprio país; não precisam de ser importados e não correm em geral grande risco de sair daqui para fora.
O futuro, todos sabemos, não nos pertence. Mas, apesar disso, convém ter cada dia um plano para o dia a seguir. Com uma prosperidade assente num crescimento de modelo diverso cujo fim não objectiva ficar maior, mas ficar diferente e melhor para cada um e para todos.
*Luísa Schmidt – socióloga, investigadora principal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, onde coordena o OBSERVA – Observatório de Ambiente, Território e Sociedade. É membro do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e do European Environment Advisory Council. Integra o Comité Científico do Programa Doutoral interdisciplinar em “Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável” iniciado em 2009. Autora de vários artigos e livros; colaboradora regular do Jornal Expresso. Entre os seus livros mais recentes destaca-se “Ambientes de Mudança: erros, mentiras e conquistas”, Ed. Temas e Debates, Lisboa 2016. Recebeu o Prémio Ciência Viva Media 2016.
** Imagem: Consumer Society And The Environment in Emaze.