Por Joana Isabel Pinho
A propósito do seu mais recente livro, On Tyranny: Twenty Lessons from the Twentieth Century, Timothy Snyder, professor de História na Universidade de Yale, foi entrevistado pela SZ (Süddeutsche Zeitung). Inevitavelmente, a entrevista focou-se essencialmente na atual situação politica dos EUA.
Começando por alertar para a evidência de que as instituições democráticas não foram ainda capazes de conter Trump e as suas politicas, Timothy Snyder afirma que os norte-americanos se foram refugiando na ideia de que, em algum momento, o novo presidente seria travado antes de conseguir causar danos na democracia e no sistema politico. Facto é que, refere, Trump não parece importar-se com as instituições ou com as leis, a não ser na medida em que estas possam representar aos fins que pretende atingir.
Com esta premissa, Timothy Snyder salienta que a História é a grande aliada no momento presente, pois permite reconhecer as semelhanças entre a realidade atual e anteriores regimes, nomeadamente os vividos na Europa nos anos 30.
Reforçando a ideia de que por muito tempo os cidadãos dos EUA se colocaram à margem da “história”, Timothy Snyder refere que há uma tendência para que a democracia e o Estado de Direito sejam assumidos como realidades inevitáveis e garantidas, o que comporta o risco de menosprezar os desafios que enfrentam. Denunciando esta letargia, Snyder afirma que “quando o presidente americano diz «America First», propõe uma politica antissistema, ataca os jornalistas ou nega a existência de factos, isto deveria despoletar uma série de associações a outros sistemas políticos” – é fundamental que haja pessoas capazes de traduzir “afirmações ideológicas em avisos políticos”, de perceber as diferenças entre resistência para com as injustiças e uma completa negação do sistema que a atual administração propõe em nome da defesa do poder e da vontade do povo.
Timothy Snyder denuncia que parte da estratégia do novo autoritarismo passa por induzir os cidadãos a preferir a ficção à realidade, limitando a ação popular a “estar sentado, ler os tweets e acenar a cabeça”. Inundam-se as redes sociais com notícias negativas que criam uma sensação de impotência nos indivíduos. E por isso é que as recentes manifestações e os movimentos sociais têm relevância, porque são ações concretas e reais que contrariam esta tendência para a apatia social.
A grande conclusão: “vale a pena salvar a constituição, vale a pena salvar o Estado de direito, vale a pena salvar a democracia”, mas é fundamental ter consciência dos riscos que enfrentamos se nos limitarmos a esperar que seja um outro alguém a tomar a iniciativa, abdicando da nossa própria capacidade de ação.
http://international.sueddeutsche.de/post/157058066625/we-have-at-most-a-year-to-defend-american